Prof António Maria d´Oliveira Parreira
1884-1887

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Professor António Maria de Oliveira Parreira
Provedor de 1884 a 1887

O Professor António Maria de Oliveira Parreira, nasceu em Azeitão em 26 de Agosto de 1836 e faleceu a 18 de Abril de 1918. Para a sua biografia vamo-nos socorrer de um artigo do jornal “O Azeitonense” de 14 de Dezembro de 1919, da autoria da sua filha Maria Cândida Parreira.

“…. Nasceu meu Pae em Azeitão numa modesta aldeia denominada “Castanhos “.

Tendo recebido de herança essas tendências congénitas cujo conjunto formam o temperamento, veio a educação e o meio em que viveu completar esse caracter, que se evidenciou sempre no decorrer da vida pela sua grande integridade.

Era meu Pae um bucólico, como não podia deixar de ser, tendo passado toda a sua mocidade no campo entre o gorjeio das aves, e o riso franco dos aldeões do seu tempo.

Como era de compleição fraca e delicada, não pensaram os meus Avós fazer d´ele um doutor, limitando-se apenas a mandá-lo á escola que ficava a dois kilometros de distância, em Aldeia Nogueira e onde meu Pae de camaradagem com Joaquim Rasteiro e Manuel Bento de Sousa, aprendia aos nove anos a declinar o ora orae.

Depois as declinações cederam o seu logar ás fábulas de Phedro e estas, por sua vez, foram substituídas pelos mais notáveis clássicos latinos. Não posso precisar por que ano achou o velho professor Júlio Pinto de Aragão concluída a instrução de meu Pae, sei apenas que Elle sabia latim como poucos.

E meus Avós que nem queriam pensar sequer em separar-se do Filho deram por terminada a sua educação.

Mas… cada um para o que nasceu digo, e meu Pae tinha nascido para ser um sábio, um erudito! …

Na ânsia enorme de saber, começou por ler romances históricos franceses e assim estudou a língua e a sua história!

O mesmo aconteceu com o inglez, o alemão, o italiano, o hespanhol.

Estudou só, fez-se a si próprio!

Portuguez de lei, amou a sua terra com entranhado amar e nunca perdia a occasião de a levantar aos olhos de todos. Grande investigador sabia a propósito de tudo, uma história que contava com um interesse e uma graça que prendia quantos o ouviam. …

Tendo assistido ás lutas civis que se desenrolaram em Portugal pelos anos de 1846 e 1847 e de que Azeitão foi teatro, descreveu-as meu Pae numa série de artigos na Revista Illustrada, sob o título de “Quadros da minha terra” em que a forma literária que lhe imprimiu em nada prejudica a veracidade dos factos antes os faz realçar mais vividos e palpitantes! …

Por volta do ano 1888 vivia ainda meu Pae em Azeitão tendo-se dedicado á lavoira e continuando o leccionar oficial e particularmente, por que nisso consistia o seu maior prazer, quando o terrível philoxéra devastou a maior parte das vinhas d´aquela região e entre ellas aquela a que Ele chamava a «sua fortuna».

Meu Pae sofreu com isso tamanho choque que pensou em procurar nova vida; mas como? Onde?

Então lembrou-se de ser professôr de um lyceu! Mas para isso era preciso um concurso! E meu Pae não tinha um exame sequer! Não importa, assim mesmo era-lhe facultado o concurso. Meu Pae, com a sua energia e com a sua vontade inquebrantável e … perdôem-me!… com o seu grande talento, prepara-se para essa difícil prova em poucos mezes! Com quem? Consigo próprio! Só! Com o seu esforço! Com o seu trabalho! Com o seu estudo! E … foi o primeiro classificado! …

Então deram-lhe a escolher; escolheu o lyceu de Évora! E em Outubro de 1901 tomava posse do seu novo logar.

(No Verão seguinte adoecia gravemente. … A conselho do seu amigo de infância e distinto médico Dr. Manuel Bento de Sousa, foi para a Arrábida, porém com esta estadia não melhorou, pelo que o mesmo médico mandou-o para as termas de Monchique, donde veio quase bom.)

Em Évora onde era estimadíssimo e muito considerado pelo seu caracter e pelo seu saber, regeu alem de diversas cadeiras no lyceu, a cadeira de latim no seminário a convite de S. Ex,cia Rev.ma o senhor Arcebispo D. Augusto Eduardo Nunes que foi seu devotado amigo.

(Ao fim de dez anos em Évora volta a Azeitão e começa a lecionar em Lisboa.)

Apesar de andar já pelos setenta e tantos, a lucidez do seu espírito era completa e nas horas em que não lecionava, estudava, estudava sempre e assim escreveu, além de enumeros artigos sobre diversos assuntos, outra obra intitulada «Oito anos de vida política» em que meu Pae pretende levantar bem alto a memória de seu avô Joaquim Pedro Gomes d´Oliveira, ministro ao tempo de D. Miguel e tão injustamente apreciado na história.