A Intemporalidade dos 400 Anos da Santa Casa da Misericórdia de Azeitão

Dr. Jorge Maria Carvalho – Provedor emérito
Dr. Jorge Maria de Carvalho - Provedor Emérito

O tempo de Santo Agostinho

 

O tempo presente das coisas passadas.

O tempo presente das coisas presentes.

O tempo presente das coisas futuras.

 

Em 21 Julho deste ano de 2021, a Misericórdia de Azeitão completa 400 anos de existência, consubstanciado por uma cadeia de centenas de gerações, na prática do Humanismo Cristão. O seu “guião ético” foi o compromisso das 14 obras de Misericórdia, que na sua singeleza e sabedoria, apontam a disponibilidade e a acção contra todas as formas de perda de dignidade a que todos estamos sujeitos. A defesa intransigente e imediata dessa dignidade, que intrinsecamente qualquer ser humano possui, e que não se extingue com a morte, é anterior à lei, pois está vinculada na espiritualidade e na moral, plasmada na resposta Bíblica de Deus “Amei-te com um amor eterno“ (Jeremias 31.3). Esta fé operativa, que valora a ajuda ao “OUTRO“, onde se encontra a TRANSCENDÊNCIA, é a essência da acção das misericórdias e a responsável pela sua intemporalidade. Por isso, o tempo de 400 anos, em si mesmo, tem uma importância relativa comparativamente com os milhares de irmãos que nos antecederam, impossíveis de nomear, e que foram os elos desta cadeia humana a quem estamos eternamente gratos, pelo seu bem fazer, aos mais frágeis e desvalidos. Sem eles não haveria tempo para contar. Na sua vetusta idade, a Santa Casa da Misericórdia de Azeitão, teve duas interrupções ao seu funcionamento: em 1910, durante 10 anos, no governo do despótico Afonso Costa e, em 1975/76, quando foi nacionalizado o antigo Hospital da Misericórdia e as restantes instalações pelo governo proto-comunista de Vasco Gonçalves. Ficámos apenas com a capela, mas chegou para mantermos a “Luz” e a coesão, para mais tarde fazermos nova arrancada. A consciência das pessoas não se muda por Decreto.

Graças a Deus, tudo se restaurou, modernizando-se e adaptando-se às novas realidades, no prosseguimento dos mesmos princípios fundacionais, mas com novos equipamentos: Centro de Dia, Apoio Domiciliário, Hospital e Residências para idosos, a par da formação profissional adequada e da fundação do Jornal de Azeitão. Depois de “zerados”, todas estas ferramentas, alcançadas com dádivas individuais e coletivas (de empresas, autarquias, instituições, etc.) permitiram, em muito, melhorar a nossa missão e fazer a diferença fundamental na vida de tanta gente.

Tanto caminho percorrido e tanto por percorrer, já vai muito tempo neste nosso pouco tempo.

 

“Se não perdermos a memória, encontraremos sempre a esperança.“

São João Paulo II

 

Neste “tempo presente das coisas presentes“, que Deus nos dê lucidez e coragem para prosseguirmos a nossa Missão.

 

Em Cristo

 

Jorge Maria de Carvalho