Joaquim Pedro d`Assumpção Rasteiro
1870-1873-1877-1878-1890

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Joaquim Pedro d`Assunção Rasteiro
Provedor de 1870 a 1873 e 1877,78, e 90

 

Joaquim Pedro d`Assunção Rasteiro nasceu em Azeitão a 12 de Novembro de 1834, e faleceu também em Azeitão a 26 de Novembro de 1898. O Arquivo Distrital de Setúbal disponibiliza o registo do batismo de Joaquim Rasteiro, nascido a 12 de novembro de 1834 e batizado em 28 de março de 1835 na Paróquia de São Simão, em Vila Fresca de Azeitão.

Joaquim Pedro da Assunção Rasteiro era filho de Joaquim Pedro da Assunção Rasteiro e de Maria Rita da Encarnação Dias Rasteiro. Casou com Mariana Margarida Pereira da Silva de quem teve um filho, homónimo, que mais tarde entre 1903 e 1906, também foi provedor da Misericórdia.

No Jornal “O Azeitonense” de 7 de Setembro de 1919, o seu filho descrevia-o assim:

… “Alto, espadaúdo, rijo. A vida do campo, ao ar e ao sol, a actividade das caçadas, as jornadas a cavallo, as madrugadas do labor rural deram-lhe ao physico o aspecto corpulento e sadio. A orfandade prematura, a constituição da família, a ancia de ser homem prestável deram-lhe a vontade tenaz, o amor ao trabalho, a iniciativa, a independencia de juízo. O estudo da história, os monumentos da sua terra, o meio técnico que o rodeou na sua mocidade e no período mais forte da sua vida trouxeram-lhe a ponderação do caracter, o justo conhecimento dos homens e das ideias, o valor da tradicção, a dedicação positiva pelo torrão natal, de que tantas demonstrações deu, quer do ponto de vista material quer affectivo.

Fez-se a si próprio. E é por este processo de auto-feitura (permita-se-me o termo) que se adquirem qualidades difíceis de criar quando em grande parte da vida nos sentimos arrimados ao outrem. Em tempos idos estes exemplos não eram raros. Outro seu conterrâneo, seu coevo e seu amigo, o recentemente falecido Professor Parreira, homem instruidíssimo em vários ramos das letras, a si se criou, se instruiu e se fez alguém, legando á sua terra e ao seu paíz uma memória de trabalhador infatigável, e os fructos dos seus relevantíssimos serviços á instrução.

Foi com este, com Manuel Bento de Sousa e outros que meu Pae cursou as humanidades na aldeia, reduzidas, por 1840 e tantos, as poucas luzes de português, mas alargadas aos mais difíceis textos dos grandes clássicos-latinos. Era professor Júlio Pinto d´Aragão, de que já hoje certamente pouquíssimos se lembram…

Morreu meu Avô tendo meu Pae pouco mais de dois anos, ficando creança e adolescente aos cuidados exclusivos da mãe, a quem sobejavam desgostos, tão cedo viúva, com um filho pequeno e outro no ventre, e o marido longos meses preso por liberal e por último assassinado. …

Foi durante bastantes anos vereador da Câmara Municipal e por algum tempo seu presidente. Datam d`este período os seus estudos sobre saneamento da cidade e projecto de esgotos, cujo resumo corre impresso.

Representou o antigo concelho de Belem, na Junta Geral do districto de Lisboa, de cuja commissão executiva fez parte, se bem me lembro, com Estevam d`Oliveira, Augusto Fuschini e Ferreira Braga.

O seu círculo elegeu-o deputado ás Côrtes em 1894.

Não esqueceram por certo os azeitonenses o deputado Arrobas, a quem Azeitão deve, por intercessão de meu Pae, os seus mais úteis melhoramentos – a rede da estrada que a serve e a reconstrução e alargamento do hospital da Villa Nogueira. Os Irmãos da Misericórdia veneram ainda hoje o seu retrato e conservam com respeito a invocação de Santo António e de Santa Cecília dada ás suas enfermarias como preito á memória de António Maria Barreiros Arrobas e sua Esposa.

Mas uma tendência, uma paixão, uma ideia constante atravessou toda a vida de meu Pae … não o abandonava a lembrança dos pergaminhos da sua terra que elle queria decifrar, até os recônditos aparentemente mais confusos da sua história.

Tanta pedra falante, tanta quinta fidalga, tantos palácios, tantos conventos, tantos factos que ali se deram, tantas referências velhas a Azeitão mereciam pesquisadas, forneceriam decerto elementos apreciáveis para a história geral e para o nome da sua terra.

O que o meu Pae chamaria viver foram os anos que empregou a estudar os monumentos da sua terra, lendo velhos códices, buscando datas, desenrolando genealogias, escavando ruínas, reconstruindo paços, adivinhando vidas.

O fructo d`este aturado trabalho consta de bastos apontamentos, trancripções de foraes e escripturas, cópias de registos parochiaes, consultas de velhos cartórios, notas da Torre do Tombo, plantas de edifícios, desenhos de pedra d´armas, debuxos de inscripções.

Alguns estudos d`estes géneros correm impressos, alem de questões económicas e administrativas tratadas em periódicos de Setúbal e no “Jornal do Comércio”, entre aquelles um sobre Affonso de Albuquerque publicado no “Economista”, a Cruz das Vendas na “Revista Illustrada”, A Península da Arrábida (origens históricas d`esta região) no “Boletim da Sociedade de Geographia”, Palácio e Quinta da Bacalhôa – monografia histórico-artística…

Outra monografia deixou quasi completa – O Palácio dos Aveiros em Azeitão.

Estes estudos valeram-lhe a sua entrada na antiga Commissão dos Monumentos Nacionaes, de que fez parte até morrer e para a qual elaborou em 1894 um projecto de inventário do que há de notável em Azeitão sob o ponto de vista arqueológico e artísticos.

Mesmo com toda esta actividade, Joaquim Pedro d`Assunção Rasteiro ainda conseguiu ser provedor da Misericórdia de Azeitão entre 1870 e 1873, em 1877,78 e 1890.